quarta-feira, 15 de junho de 2011

TRAVESTI: DE DON KULICK










A seguinte matéria é baseada no livro intitulado Travesti, escrito por Don durante 12 meses de convívio com as travestis do Centro Histórico de Salvador. Abordarei algumas características e peculiaridades dos travestis encontrados no enredo de 279 páginas do autor. Primeiramente é importante identificar o que caracteriza um travesti, no geral seria uma homem ou mulher que usa roupas do sexo oposto (sendo uma questão de gênero e não de sexualidade), estando dessa forma travestido, no presente livro é realizado um estudo com relação ao comportamento dos travestis de Salvador que se vestem como mulheres e se prostituem no Centro Histórico.
     Uma característica geral dos travestis é o fato de adotarem nomes femininos, alguns consumem grandes quantidades de hormônios e injetam litros de silicone industrial em seus corpos pretendendo adquirir contornos femininos como seios, quadris largos, coxas grossas e bundas grandes. Porém os travestis não se definem como mulheres mesmo vivendo o tempo todo vestidas como mulher, não desejando extrair o pênis.

é muito importante destacar a violência a que os travestis estão expostos cotidianamente com relação à agressões verbais ou mesmo físicas de homens e mulheres, obrigando ao mesmo a reafirmação da ocupação do espaço público.

VIRANDO TRAVESTI

      De acordo com o estudo o que leva uma pessoa a virar travesti ocorre durante a infância onde acontecem jogos eróticos com outros meninos e atração sexual pelo sexo masculino, onde a futura travesti é penetrada por um menino mais velho ou por uma homem adulto.  
   Depois da primeira relação anal os meninos que se transformarão em travestis começam a se vestir como mulher, cada vez mais explicitamente, dando início a diferentes modificações corporais pretendendo se tornarem mais femininos. Quando as transformações são bem aparentes os meninos geralmente são expulsos de casa ou a abandonam por livre iniciativa.

Depoimento de Carlinhos travesti de 41 anos:

Carlinhos: Mas eu sempre tive essa tendência de fazer essas artes femininas. Tudo meu era feminino. Eu nunca achava uma mulher bonita. Eu só achava os homens. Passava horas sentada no muro lá de casa olhando os homens passando. Aqueles boys: "Oi, Carlinhos", faziam questão de falar comigo: "Oi". [Risos]

Carlinhos: Assim bem pintosa, né?

Keila: lógico.

Carlinhos: Sem aquela mentalidade que a gente tem hoje, né não? Mamãe me botava pra dentro: "Menino, vem pra dentro!", entendeu? Se eu ia pra rua, tinha algum comício, eu não ia pro comício, porque era só "Viado, Viado, Viado", "bota água no fogo", "pega a bicha". E eu assim, ó [Carlinhos mexe os ombros de maneira provocante, como se fosse uma mulher exageradamente vamp].

Don: quando era criança?

Carlinhos: quando era criança. eu sentei pra mostrar que era mulher, eu remexia mais que as mulheres. eu tinha que fazer aquele remelexo mais que as mulheres. e eles: "É, é, é, é". [Don e Keila estão rindo]. Essas coisas que passavam na minha mente. E hoje quando eu deito que eu vou pensar, né não?

Depoimento de Cíntia:

Keila: quando foi que você percebeu que não era menino? que não gostava das coisas...de menino... gostava sempre das coisas de mulher?

Cíntia: Ah, desdes os..., de criança mesmo/ desde os 7 anos.

Keila: Quantos anos? sete anos?

Cíntia: Desde os sete. já gostava de coisas de menina. brincava de boneca, brincava de... coisinhas de menina...não brincava com, só brincava com dois meninos...durante a tarde que de manhã eu estudava. Aí pronto, era um roça-roça, um esfrega-esfrega, era um beija-beija na boca. [risos]. pronto.

SAINDO DE CASA

Após descobrir o desejo sexual por homens, após ter a primeira relação sexual e se travestirem a maior parte dos travestis saem de casa ou por não serem aceitos pelos pais ou por vontade própria, quando já estão fora de casa e precisando de dinheiro as travestis começam a transformação deixando os cabelos crescerem, usam roupas de mulheres, depilam pernas, fazem a sobrancelha e começam a utilizar hormônios, silicone

PROSTITUIÇÃO, PROGRAMA, ROUBANDO OS CLIENTES

Os travestis vêem a prostituição como um trabalho, o programa começão quando ela entra no carro do cliente (caso trabalhe na rua), em seu próprio quarto ou quando instrui o cliente a ir em determinado local. A partir desse momento elas se sentem na obrigatoriedade de receber o dinheiro do programa. Algo que acontece entre as travesti e os seus cliente é o assalto, onde ao efetuar o pagamento as travestis cobram mais pelo programa.





DON KULICK: Doutor em antropologia social, atualmente é professor titular no departamento de antropologia e diretor do centro de estudos de gênero e sexualidade da New York University.


Ass: Caio T.

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